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sábado, 5 de novembro de 2011

Uma carta de amor

Ontem fez muito frio, assim como tem feito incomumente na época atual, lembrei muito mais de você do que do meu casaco e dos meus cobertores que ficaram esparramados no meu armário. Essa carta é pra que leia em silêncio, você pode escutar minhas palavras? Ao menos seu coração pode decifra-las? Não sou um poeta. Gostaria de ser chamado de amador, pois é um patamar, porém dizem que quando estamos apaixonados viramos eternos escritores, a boca pouca diz, o sentimento grita, as palavras te acolhem, as minhas me fazem sonhar. 

"
Ei, coração você está bem?
Eu acho que estou indo
Está indo para onde, meu caro?
Está me interrogando? 
Mas é óbvio, quero que não se perca no caminho
Pois eu estou indo na direção mais iluminada
Cuidado com as luzes fracas
Eu já não me importo mais"

Lembra que me fazer lembrar de você, me faz lembrar que você é minha luz, se acaso se apagar, não me deixe no escuro, o caminho é muito sombrio e existem muitas chances d'eu não me guiar apenas por mim, os arrepios são tão constantes e muitas vezes não são em razão do frio que fez ontem. Não lembre mais de nada agora,  porque até virarmos lembranças, precisamos nos tornar memórias. Que tolo eu sou, podia estar fazendo o que sempre faço, que é dizer o quanto você tem sido memorável na minha vida, mesmo que através do pensamento, amor é isso certo? Amor não acaba, é como paixão eterna. Estou escrevendo pra que saiba que o coração tem acreditado mais que qualquer um.


"
Isso é verdade certo?
Certamente, eu sou sincero com você
Se eu fechar os olhos vai mesmo partir?
Nem enquanto estiver dormindo"

Por último, queria dizer que amo te amar, que eu te vejo todos os dias e sinto saudade mesmo assim, você estava linda no meu último sonho, tal que descreveu perfeitamente essa sua característica interior e exterior. Não liga de perder essa carta, ela foi escrita com sementes e plantada no seu coração.

                                       

Hoje

Vim pulverizar os ataques de quem desconhece o que é sentimento interno, o externo é convicto ao olhos de todos, chame de valorização, meu pulmão pede mais ar, meu coração pede mais batidas, ou menos. Sinto que sentir se aproxima de criar algo em si mesmo, culpa minha, dos meus acertos e dos meus erros, sentir não te traz mal, ao mero olhar de quem cria o sentimento. Sua vida é seguida a risca por impecílios e argumentos em pró ou contra sua vontade, sua vontade que nem é sua vontade. O jogo de palavras agora não é tão diferente do jogo da vida, eu não vim escrever por escrever, ou vim. Isso é um desabafo de quem não tem o que falar? Meu céu é claro à noite e escuro durante a manhã. Ainda não aprendi a usar a força do inimigo contra ele, talvez seja fraco o suficiente para se auto destruir, talvez me destrua porque minhas palavras de otimismo não servem para minha própria pessoa. Comprei minha passagem para ser julgado também.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

São Paulo, 1999

por Emicida

HÁ ALGUM TEMPO, os bailes de rua eram comuns. Na época em que se tornaram escassos, as opções de diversão foram para mais longe de casa. Para não comprometer minha vida social, acompanhei a migração. Quando percebi, tinha virado um boêmio, e não era raro chegar em casa de manhã.

Não é sobre isso que quero falar, no entanto. O assunto é uma pessoa quase invisível: um senhor chamado Antônio Raimundo Silva. Todas as manhãs, lá estava ele enquanto eu regressava da madrugada. Sentado ao lado do balanço preso na árvore, vestindo calça social e blusa de lã, fumava seu cigarrinho de palha observando a serra da Cantareira.

Eu costumava parar ao seu lado e trocar algumas ideias. O assunto podia ser o bairro, a vida na cidade, sua infância. Falávamos sobre tudo, até que o sono viesse me chamar e eu subisse para concluir meu caminho.

Sua voz rouca e cansada repetia todo dia o mesmo cumprimento, na hora do encontro tanto como na da despedida: "Antônio Raimundo Silva, às ordens". Na hora de me despedir, achando aquilo meio estranho, eu dava um simples "tchau".
(A cidade rouba nosso coração, esconde no meio da fumaça. E sabe por onde ela começa? Pela nossa educação. É o primeiro prato a ser devorado. Quando você nota, já não tem mais nada além de saudade.)

Depois da nossa conversa, lá ia ele descer a rua de terra, como se só estivesse ali para me aguardar, todo sábado. Eu subia para casa pensando em mil coisas e me perguntando: "Pra que ele se apresenta sempre? Que falta isso faz?".

Ao ouvir cada novo "às ordens", eu ria, como se aquilo tivesse graça. Antônio contava coisas sobre sua vida, abria o coração e falava, falava e falava mais. Com a passagem das semanas, a duração da conversa ia se estendendo. Eu também comecei a me sentir mais livre para falar da minha vida -afinal, contar o seu passado a alguém é querer fazer essa pessoa se sentir em casa ao seu lado, saber bem o solo que está visitando. Me sentia na obrigação de contar parte da minha vida a ele também.

Ali com ele, aprendi que a Cantareira se chama assim porque os antigos trabalhadores da região guardavam água em cântaros.
Ele também me ensinou atalhos para chegar às cachoeiras existentes e mostrou que ouvir é muito mais importante do que falar. Ah, sim, e também descobri, graças a ele, que Adoniran Barbosa nunca morou no Jaçanã.

Numa certa manhã de sábado, na subida da volta para casa, não o encontrei. Sentei então no banco ao lado do lugar dele e esperei. Pensei em assuntos para conversar, involuntariamente o condenei por estar atrasado ao nosso encontro. Olhei pela rua de baixo, esperei mais, até desistir e subir a rua. Merda! Havia me desencontrado dele, e nosso compromisso semanal estava cancelado.

Foi aí que me dei conta de uma informação básica: embora morássemos no mesmo bairro, eu não fazia ideia de onde ficava a casa dele, de quem eram seus parentes -não sabia nem mesmo se ele tinha parentes ali. Era tudo uma incógnita. Aquilo me deu uma sensação de vazio, quase como se ele fosse uma miragem.

Passaram-se umas três semanas; em mais um regresso matutino, passei pelo balanço vazio sob a árvore, ninguém olhando para serra e para o bairro.

Até que uma tarde, numa conversa de bar, disseram sem mais detalhes que ele havia morrido. Comentavam sobre um tal de seu Raimundo, aquele que teve um piripaque e caiu duro no chão.

Fiquei chocado com a notícia. Voltei desolado para casa, como se tivesse perdido um parente próximo, um amigo de anos, alguém muito especial.

Sentado no banco de seu Antônio na manhã do sábado seguinte, observava a serra e o balanço antes de encarar o alto das montanhas e perceber: aquele "às ordens" fazia tanta falta...

(texto de Emicida públicado 24/07/2011 na Folha de São Paulo no caderno Ilustríssima)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Drogas de aluguel

A noite aqui ainda é mais quente que o começo de tarde na capital, as coisas chegam mais perto de acabar quando estão começando, eu aprendi a xingar quando pisei na primeira pedra que avistei, mas aprendi a desviar delas no caminho. Hoje é uma maior que a outra, não existe refúgio maior que seu próprio lugar, um espaço que nem você pode ultrapassar, eu ando precisando de drogas de aluguel, pra doar um pouco dos meus pedaços a cada um que atravessa minha estrada, me alugar em cada hotel dessa cidade e me espelhar nas felicidades temporárias, afinal o que é pra sempre, sempre acaba não é verdade? Se bem que a gente gosta de inventar slogans pra simular nossa felicidade, se o pra sempre é sinônimo de fim eu digo que meu temporário nunca vai acabar. Preciso de drogas de aluguel, que me viciem a não querer descobrir o que tenho pela frente, porque sabe... Meu caminho é tão longo, que caminhar em uma só direção talvez seja sem graça, os brindes serão sempre os mesmos, os sorrisos automáticos, eu não deixo a vida me levar porque eu mesmo levo ela! Levo a desertos cheios e multidões vazias, entrego meu destino na mão de cada um que atravessa meu caminho, porque se fosse eu que guiasse meus passos estaria bem distante daqui. Drogas de aluguel pra me manter sóbrio e não me perder dentro do labirinto.

Passado;

Passado a gente deixa, deixa pra viver o que tem que ser vivido agora, passado vira e meche com a gente, traz no presente causas e consequências futuras, passado agrada e não agrada. Passado é vontade, recordação, mágoas e experiência. Quem sou eu pra dizer o que é vida? Mas eu posso dizer o que é a minha vida, a que eu vivo e ninguém mais, a que eu vejo com meus olhos e tiro minhas próprias opiniões, sentimento ingrato que traz o que passou pra tão perto como se fosse acontecer outra vez, e que te deixa com medo de arriscar tudo que foi bom só pra não se surpreender com o que já foi ruim! Outra vez, porque cai entre nós que insistir no erro é burrice, apesar de que existem tolos, ou loucos suficientes para isso. Isso são causas do passado, que a gente diz ser eterno e que a gente nunca vai esquecer, o mesmo passado que é o atual presente do qual vamos nos lembrar, a mesma lenha que vai queimar hoje, vai trazer fumaças lá na frente. Quando eu era pequeno imaginava o futuro, enquanto eu cresço me imagino no passado, talvez seja falta de perspectiva, ou de metas, ou simplesmente saudade. Passado? pra mim é mais um degrau nessa longa escada.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Esse mundo não é brincadeira,

Enquanto você reclama da vida, tem gente lutando por uma! Então seja mais, mais objetivo em viver e não contar as horas pra pensar nos erros, viva.Viva pra correr, viva pelos seus amigos, viva pra você e pelo que você acha certo, tentar e buscar, não se arrependa. Note que tudo vai dar certo quando você menos esperar, espere pelo positivo é claro, mas não busque a felicidade nem a tristeza, suas atitudes vão fazer elas te encontrarem no momento certo.

Outra vez, vou embora

Sem olhar pra trás, eu acho que o amor não é pra mim. Deixa que eu sigo igual procurando um motivo pra brindar a vida, como uma noite de sexta-feira. Prefiro me acustumar assim, me acustumar com a ausência de tudo que um dia veio pra me salvar. Sem querer eu fui tropeçar em faltas de explicações, o que me importa é mergulhar em outras vidas. Deixa eu ver se destino existe, deixa eu descobrir se verdades podem ser contadas com o olhar, no fim alguém me leva pra bem longe do que me faz lembrar.